
Não sou mais um menino!
Ricardo Martins
É verdade, realmente não sou mais um menino, as pernas e
o Tempo lembram-me isso a cada instante em que esqueço e acho que ainda sou um
guri! Todavia ainda me sinto assim, apesar de não mais poder passar as tardes
ensolaradas em meu querido Rio de Janeiro, a correr de um lado ao outro,
pulando muros pra chupar manga e romã, ou nadar no açude da fábrica de tecidos,
brincar no bonde, jogar pelada nas ruas e soltar pipa! Ah! E no dia de São
Cosme e São Damião ir à busca dos doces distribuídos na vizinhança,
certamente era dia de bronca e de muita sujeira pelo corpo todo, mas valia a pena, se valia!
certamente era dia de bronca e de muita sujeira pelo corpo todo, mas valia a pena, se valia!
Saudades daqueles tempos em que eu ia direto para rua,
após fazer os deveres da escola e sumia como diziam minha Vó e minha Mãe. Realmente
era assim, eu de repente estava no alto de uma frondosa árvore a comer jamelão,
babando e lambendo os lábios e sujando a roupa de roxo, o “sermão” era certo,
mas nada me fazia sair dali!
Ah! Como eram gostosas minhas tardes de criança, feliz,
livre, despreocupado, independente a fazer o que queria, enfim, uma vida
saudável.
Muitas vezes as traquinagens davam lugar aos sonhos, eu
viajava literalmente e ia a lugares jamais pensados ou conhecidos, apenas
queria ir até lá e ajudar as pessoas a serem felizes, pois ainda bem pequeno
aprendi a dar importância e a proteger o outro, aquele mais frágil, mais
simples, mais humilde e via de regra, discriminado e injustiçado, isso acendia
em mim a chama da justiça.
Sim, com certeza, fui um garoto corajoso, valente,
destemido e até mesmo atrevido quando se tratava de proteger alguém de uma
injustiça ou alguém que havia sofrido um ato de desrespeito.
Ah! Também já era atrevido com as “gatinhas”, pois sempre
a mais linda me chamava a atenção e eu me encantava... Isso sempre me atraiu; o
desafio, o instigar, enfim, e elas sempre me ensinaram tudo, sobre elas mesmas
por isso desisti depois de adulto de entende-las e sim apenas admirá-las.
Eu ainda guri, adorava sonhar, já refletia e queria
respostas:
Por que isso se dá? O que fazemos aqui e como chegamos
aqui? Que viemos fazer aqui? Enfim, “viajava” e queria entender as coisas,
contudo sempre admirando o belo, as belezas da Vida, a Natureza, as coisas
simples, o mar, as estrelas, a lua e o sol! As pessoas me atraíam.
Quantas noites eu sentava na soleira da porta e contemplava
as estrelas admirado, aprendi o nome de muitas, e também conversava com a lua!
Na real eu já conversava a meu modo, com DEUS! Como faço até os dias de hoje.
Era ali que sonhava as mais loucas e pretensiosas aventuras no futuro.
Também foi em criança que aprendi a importância de ser
educado, gentil, atencioso, humilde, respeitador, enfim, aprendi muito com os
meus, meu pai era um cavalheiro, meu avô um sábio, um trabalhador, um vencedor,
aprendi também com as pessoas e também na rua, aonde havia códigos e limites,
aprendi a entrar e sair de todos os lugares, desde o mais simples e limpo, ao mais
requintado e não tão bem frequentado, mas sem perder jamais a dignidade e
deixar-me ser ofendido por alguém de forma vazia e mentirosa. Quando ofendido
ou mal tratado, isso me enchia de brio e eu queria briga, e era e sempre fui
bom de briga, na mão como se dizia a época tinha que ser bom ou mais de dois...
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Ah! Aquele menino também aprendeu a perceber os
hipócritas, falsos moralistas e racistas, pervertidos, enfim, as pessoas vazias
que nada mereciam e ou merecem da Vida.
Realmente não sou mais aquele moleque travesso que desde
cedo admirou a Vida, seus mistérios e magias, e a ela se entregava a brincar
sem parar, sem em nada pensar, enfim livre como um pássaro selvagem, contudo
ainda trago dentro de mim os mesmos sonhos, desejos e vontades.
Olho-me diariamente no espelho e vejo dentro de mim
aquele garoto que ama a Vida acima de tudo, talvez o olhar não seja mais o
mesmo, um pouco mais triste e decepcionado, muitas perdas, pessoas, enfim,
entretanto o sorriso é o mesmo, é aquele que todos os dias bem cedinho
agradecia e sorria para a Vida e para o novo dia!
Não sou mais “aquele menino” que corria e pulava muros e
estendia seus murros naqueles que mereciam. Minhas caimbras e dores físicas que
o digam. Contudo, sou ainda, sim, felizmente, um menino, graças a DEUS, um
guri, que crê na Vida, admira a Vida, e antes de tudo a respeita.
Sabe, gente? Na real serei sempre um eterno menino! Ainda
bem!
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