Escrever? Sobre o que?
Ricardo Martins
Sabe, tem
momentos que olho pra folha de papel, limpinha, vazia, e me pergunto: sobre o
que escrever? Não que perdi ou deixei de admirar as cores da Vida, não, em
hipótese alguma! Jamais! Nem que não acredite mais na força do Homem de bem, de
caráter e com dignidade, coisa rara isso, mas ainda presente, pessoas
especiais, sim, seguramente que muitas ainda estão por aí! É uma minoria, mas
existem, com certeza!
Na real, a
dificuldade de escrever que sinto vem de algumas, na verdade, de muitas e inúmeras
decepções com as pessoas em geral, que insistem cada vez mais em ser pior em
egoísmo, individualismo, pretensão, soberba e orgulho exacerbado. Enfim as
pessoas deveriam melhorar, procurar o outro e compartilhar com sinceridade e
afeto, mas, ao invés disso, preferem “involuir”, isso é triste e lamentável.
Venho de uma terra, de um lugar, de uma linda cidade onde o tom marcante sempre
foi o afeto ao outro, o admirar a Vida, no meu querido Rio de Janeiro, todos
buscam o próximo a fim de estar junto, trocando afagos, carinhos e atenções, enfim...
acho que deve ser outro Planeta.
Além disso,
o não conseguir escrever tem a ver também com a prática e a classe política que
impera no Brasil, assim como a péssima gestão da atividade pública em geral, e
isso engloba o executivo e judiciário, onde reinam absolutas a corrupção, o
desinteresse público, o despreparo, a desonestidade profissional e a falta de
caráter e dignidade. Onde a grande e esmagadora maioria dos envolvidos pensam
apenas em si, em roubar o bolso do cidadão e o erário publico, enriquecendo
ilicitamente e de forma desavergonhada e isso vai do presidente da república ao
mais simples funcionário público no menor município da Brasil. Indecente,
imoral e deprimente, contudo real.
Tudo isso,
irrita, incomoda, aborrece e o mais grave a meu ver, entristece, desgosta,
enfim decepciona e seguramente se reflete no escrever, mais que isso, no
sentir, e isso de certa forma bloqueia, limita, inibe a quem escreve.
Evidente que
sabemos pouco, muito pouco mesmo do que transcende daqui, deste “plano”, na
real a VIDA é um grande mistério, sem querer me aprofundar em observações,
convicções, afirmativas, conceitos, enfim, por que então não fazer desta um
“doce” mistério, uma passagem agradável, oportuna e feliz?
Nós que tudo
recebemos, de forma gratuita, tudo lindo, belo, singular, natural, perfeito e
pronto, não sabemos valorizar isso, tendemos a complicar as coisas mais
simples, a deteriorar relações, convivências e atividades, tornando a Vida que
é bela e ímpar em algo infeliz, feio, violento e banal. Como pessoas não
valorizamos o que recebemos, como cidadãos não exercemos nossa responsabilidade
de forma apropriada e como “gente”, como seres humanos. Muitas vezes
impregnamos nossos corações com coisas indignas, desagradáveis, desonestas, com
atitudes e posturas desequilibradas, desconexas e fora do contexto identificado
à convivência social e íntima e pessoal.
Aquilo do “TER” mais que do que “SER”,
algo mais ou menos assim. Uma pena!
Evidentemente
somos produtos do meio, influenciáveis sim, entretanto, com o tempo, com a
vivência e a maturidade as coisas deveriam ficar mais claras e objetivas, mas
na maioria das ocasiões a contaminação e tão grande que mudar é impossível e
isso normalmente leva ao desembocar de tragédias ou algo semelhante. Tudo isso
influencia o não escrever, o olhar para a folha de papel limpa e perguntar: O
que ou sobre o que escrever?
Hora de
refletir e muito, pensar e repensar, rever, revisar e ajustar, aproveitar a
Vida de forma positiva, sem maiores complicações para si e para o próximo,
levantar a bandeira do “SER” gente e cidadão! E desta forma certamente as
palavras, emoções, sentir e perceber se evidenciarão e os sentimentos serão outros a serem
registrados na história e em nossas trajetórias por toda esta maravilhosa Vida!